Incondicional

Conta-se que há muitos anos havia dois grandes amigos. Conheceram-se desde a infância e eram praticamente como "unha e carne". Uma amizade marcada pela lealdade e na certeza de que eram capazes de dar a vida um pelo outro. Como Davi e Jonatas, eram grandes parceiros e planejavam um futuro em que suas familias morassem próximas para que este elo se perpetuasse.

Passou o tempo e estes amigos cresceram, tornaram-se profissionais, mas apenas um alcançou sucesso em sua carreira, tornando-se gerente de uma grande empresa e angariando milhões em sua conta bancária. Seu outro amigo tinha um trabalho simples e morava numa pequena casa de um bairro de classe média da mesma cidade.

Tempos depois, dizem que o amigo de vida simples passou por uma pequena crise financeira e sua esposa tinha adoecido. Na certeza da ajuda de seu melhor amigo, pediu uma quantia de dinheiro emprestada para que pudesse tratar da doença da sua mulher. E como havia pensado, seu amigo de pronto emprestou o dinheiro, que na epóca representava uma grande quantia monetária.

O tempo passou, as coisas melhoraram um pouco, mas ele continuou devendo o dinheiro a seu velho amigo. Passaram-se anos e ele não pagou a dívida. Seus vizinhos diziam que ele deveria estar envergonhado, pois não estava sendo um homem de verdade. Mentindo para si, para seu amigo e até mesmo para Deus. Ninguém nunca confiará em você de novo! - disseram. Deixando se levar pelos comentários de quem não conhecia o relacionamento verdadeiro e leal que tinha com seu grande amigo e, ao mesmo tempo, estando triste com a situação, resolveu se esquivar. Não dando mais nenhuma satisfação ao longo dos anos, optou-se por se afastar de seu antigo parceiro.

Anos depois chega uma pequena carta em sua casa. Curioso, ele abre aquele envelope e descobre ser um convite para ir à casa do seu amigo para uma festa. Num primeiro momento ficou surpreso e feliz, mas logo em seguida sentiu-se constrangido apenas por pensar em entrar na casa daquele a quem tanto devia e que com certeza ainda deveria estar magoado com seus erros.

Angustiado, ele continuou fugindo, embora soubesse que poderia ser perdoado, pois a quantia devida era insignificante frente à fortuna que seu amigo possuía. Infelizmente, dizem que ele nunca retornou. Por vergonha, medo do julgamento que ele lhe poderia fazer, por orgulho para não ser preciso confessar que não possuía condições de saldar a dívida. Conta-se também que o amigo diariamente sai à porta de sua casa na esperança de ver o velho companheiro despontando no horizonte. Sua mulher conta que por vezes os olhos dele se enchem de lágrimas com as recordações da grande amizade que compartilhavam.

Escrevi este conto para descrever um pouco daquilo que acontece no nosso íntimo quando falhamos com Deus. É exatamente dessa forma que o diabo quer que nos sintamos: que fujamos da Casa de Deus e que nos sintamos indignos demais para estarmos ali. Que fujamos da Sua presença porque estamos em dívida.

Não recusemos o convite desse nosso Amigo riquíssimo em Graça, que já pagou o que devemos e o que, porventura, ainda deveremos:



Tetélesatai - Está consumado!

Será que é tão difícil entender isto? É sim.
Aceite apenas, o Amor incondicional não existe para ser entendido.









                                                                                                          Por:   Dalila Prates & Iuri Vasconcelos